sexta-feira, 21 de novembro de 2008

PONTO DE VISTA: O DESAFIO E O PRAZER DA MUDANÇA


ESCREVENDO O FUTURO - RELATO DE EXPERIÊNCIA


Jorge Henrique Vieira Santos*

A experiência de realizar com meus alunos as oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa (Pontos de Vista) – Escrevendo o Futuro além de ter sido um desafio prazeroso, foi uma oportunidade singular em que pude testar, efetivamente, uma nova metodologia para o trabalho de produção textual em sala de aula. Isso me fez refletir sobre a forma com que penso minha própria prática pedagógica, enquanto professor de Língua Portuguesa.

O desafio se configurou quando o material para as oficinas chegou à nossa escola, o Manoel Messias Feitosa, em Nossa Senhora da Glória - SE, na última semana de aula do mês de junho. Naquele momento fiquei apreensivo, pois teríamos pouco tempo para trabalhá-lo, uma vez que estávamos entrando em recesso e nossas aulas retornariam na segunda quinzena de julho, ou seja, tínhamos cerca de três semanas apenas, até 18 de agosto, para concluir todo o cronograma de atividades.

Mesmo assim, quando li o caderno do professor, fiquei motivado a fazer o possível para aproveitarmos a oportunidade, pois a metodologia da seqüência didática me pareceu muito boa, e imaginei que surtiria efeito. Mesmo que não conseguíssemos realizar as oficinas dentro do prazo, produzindo textos satisfatórios que pudessem concorrer à Olimpíada, valeria a pena testar a metodologia proposta, pois o trabalho com o texto argumentativo nos serviria também de preparação para o vestibular. Decidi, pois, tentar convencer os alunos das turmas do 3º A, 3º D e 3º E, com as quais trabalhei, a virem em horários alternativos para a escola, pois com apenas uma aula por semana não lograríamos êxito. Minha proposta era que viéssemos durante três sextas-feiras, no turno da manhã, e um sábado, durante os dois turnos.

No encontro em que realizamos a primeira oficina, durante uma aula regular, assim que eles tiveram contato com alguns dos artigos de opinião sugeridos e discutimos acerca da Olimpíada, percebi que meu propósito não seria difícil de ser atingido, pois as turmas, em sua grande maioria, manifestaram muita motivação em participar dos trabalhos. Expliquei-lhes que o planejamento das minhas aulas não seria interrompido e que não teríamos prejuízo quanto à preparação para o vestibular, pois trabalharíamos com uma metodologia muito boa que nos ajudaria a produzir textos argumentativos mais consistentes.

A discussão inicial que fizemos sobre os textos das páginas 72 a 81 do manual deixou os alunos entusiasmados. As perguntas norteadoras: “onde o texto foi publicado?”, “quem o escreveu?”, “a quem se dirige?” e “qual sua finalidade?” chamaram-lhes a atenção para o contexto de produção dos artigos, tornando nosso estudo mais significativo e instigante.

Um texto, em particular, despertou-lhes maior interesse: “Doce Içara com sabor amargo”, não só por suas evidentes qualidades, mas, sobretudo, por causa da pouca idade de sua autora. Percebi, no entanto, que a reação de boa parte dos alunos não foi apenas de admiração, mas revelava uma convicção pessoal de “incapacidade” para fazer o mesmo: “Se eu escrevesse metade do que essa menininha escreve, já estava satisfeita”, lembro-me de ter ouvido de uma das alunas do 3º A. Mesmo assim, a idéia que um deles lançou ali contagiou os demais: “se uma menina de onze é capaz de argumentar tão bem, por que nós não podemos ser?”.

Ao final dessa primeira oficina, outros dois alunos dessa mesma turma me disseram que haviam gostado muito da aula, pois entenderam bem os textos que discutimos. Esses alunos, em especial, apresentavam sérios problemas de coerência em seus escritos, mas pude perceber, ao longo das oficinas, um notório avanço, tanto em suas produções quanto em seu empenho no processo da reescrita. Eles foram, sem dúvida, dentre todos, os que apresentaram maior entusiasmo e os melhores resultados durante as oficinas, considerando o ponto de onde partiram nesse processo de aprendizagem.

Acredito que o ânimo deles e dos demais e os resultados positivos obtidos nessa e nas outras oficinas que se seguiram se devem, principalmente, ao fato de termos saído do formato convencional com o qual trabalhávamos até então com os textos.

De uma maneira geral, o trabalho de leitura e produção textual que realizava comumente desconsiderava o contexto de produção do objeto escrito. Normalmente estudávamos o texto como se este tivesse em si mesmo uma razão de ser e não fosse produto de uma interação entre dois sujeitos. Assim, procurávamos descrever-lhe as características formais e os significados resultantes das relações intrínsecas entre suas partes constituintes; Tentávamos desvendar-lhe a idéia central, as idéias secundárias e suas especificidades lingüísticas como: seu nível de linguagem, seus recursos estilísticos e seu vocabulário. Apenas em alguns casos buscávamos investigar outras especificidades, como: as intenções comunicativas do autor, a situação da comunicação, ou o contexto em que o texto fora produzido. Quando assim fazíamos, levantávamos hipóteses acerca do destinatário do texto e de suas implicações na forma como este era elaborado, e acerca do suporte físico de sua veiculação.

Esses estudos, entretanto, que avançam um pouco mais, além dos limites do texto, são recentes em minha prática pedagógica e ainda não refletem, substancialmente, a prática comum da maioria das aulas que ministro. Particularmente, tento fazer um estudo amplo de cada texto que utilizo em sala de aula. Algumas vezes, no entanto, sou engolido pela rotina diária e não logro êxito nessas tentativas. Com as oficinas que realizei, percebi que é possível obter resultados satisfatórios numa seqüência didática, mesmo em intervalos longos de uma aula para outra.

A proposta metodológica das oficinas mostrou-se dinâmica e com a divisão de objetivos e atividades bem organizada e gradual. O processo seqüencial permitiu que os alunos fossem, paulatinamente, se apropriando das especificidades do gênero que estávamos trabalhando e o fossem diferençando de outro gênero muito parecido: a notícia. Além disso, a forma como a discussão era conduzida ao longo das oficinas, seguindo estritamente as orientações contidas no manual do professor, tornava os textos mais “vivos” para eles, pois não estávamos discutindo algo estéreo, mas questões que instigavam sua reflexão e a manifestação de suas opiniões, pois se lançavam à sua realidade, à realidade do lugar onde viviam.

Posso afirmar, e isso pode ser constatado pelas produções dos alunos ao longo das oficinas, que houve uma perceptível melhora nos escritos da maioria deles, principalmente no que diz respeito aos aspectos de coesão, coerência e argumentação. Ademais, o fato de um deles ter sido selecionado como finalista, certamente, demonstra essa afirmação e me dá motivos suficientes para me empenhar na continuidade desse trabalho.

A classificação de nosso Jean Marcks, do 3º D, fez aumentar sua auto-estima e a de todos os outros, pois vislumbraram que são capazes de produzir bons textos argumentativos e que podem melhorar sua habilidade com a escrita a cada dia. Além disso, aprenderam, na prática, que escrever bem pode lhes proporcionar prestígio entre os membros de nossa comunidade.

Essa experiência me possibilitou rever algumas estratégias de motivação para o início do trabalho de leitura e de produção textual. Permitiu rever também a forma como poderei, doravante, definir os objetivos específicos de cada aula e as estratégias que tenho de utilizar para que os alunos possam assimilar, gradualmente, os elementos que definem cada gênero textual.

Houve, portanto, avanços significativos nos dois pólos do processo. Os resultados das oficinas foram satisfatórios e prazerosos para os alunos e para mim e modificaram nossos pontos de vista. Experimentamos o prazer de ler bons textos argumentativos, de discutir assuntos polêmicos de nossa comunidade, de nosso cotidiano, e de escrever de forma crítica sobre eles, lançando nosso olhar sobre a realidade e vislumbrando a possibilidade de modificá-la também, a partir de nosso pensamento e de nossas convicções.

*Jorge Henrique Vieira Santos
Professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação
do Colégio Estadual Manoel Messias Feitosa
Nossa Senhora da Glória – SE.
Professor Finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro" - 2008

Um comentário:

  1. Ola querido,tambem estive nas olimpíadas de lingua portuguesa, meu nome e Rubya Rezende a miha aluna ganhou prata na categoria de Memorias "Emanoela Bitencourt Varjao", fomos para Brasilia filmei vc na catedral.
    Tambem tirei foto com o seu aluno se houver um jeito de me enviarem um endereço eletronico envio para vcs.Bjos

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