sexta-feira, 15 de maio de 2015

DISCUTINDO RACISMO, ÉTICA E LIBERDADE


Dando continuidade à exitosa experiência multidisciplinar do projeto Cine Cult Manoel, na noite dessa sexta-feira, 15, os professores Wagner Cruz, Fabrízio Varjão e Darciane Andrade, que ministram, respectivamente, as disciplinas Sociologia, Filosofia e Língua Portuguesa no Colégio Estadual Manoel Messias Feitosa (CEMMF), em Nossa Senhora da Glória - SE, conduziram com competência e propriedade uma profícua discussão acerca de racismo, identidade/alteridade, ética e liberdade com os alunos de todas as turmas do turno noturno da referida escola.

O debate, que contou com a participação efetiva e pertinente de diversos alunos, foi desencadeado após todos assistirem ao filme 12 Anos de Escravidão, do diretor Steve McQueen. Esse longa, que na 86ª edição do Oscar, em 2014, recebeu os prêmios de melhor filme, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado, baseia-se no drama real vivido por Solomon Northup, um cavalheiro negro livre e letrado de Nova Iorque que foi sequestrado e vendido como escravo em 1841, anos antes da abolição da escravidão nos EUA.

O filme permitiu aos professores uma abordagem dinâmica e abrangente de temas transversais relevantes como o etnocentrismo, discutido pelo professor Wagner Cruz, que enfatizou para os alunos a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, a fim de que possamos combater essa tendência humana de menosprezar sociedades ou povos de cultura ou aspecto diverso do nosso. O professor destacou ainda que posturas de intolerância à diversidade foram responsáveis pelos grandes crimes que a humanidade cometeu, a exemplo da escravidão do povo negro e do Holocausto. Contribuindo para a discussão, alguns alunos, em seus depoimentos, ratificaram que convivem diariamente com manifestações de intolerância na escola e na sociedade e que o filme, a partir de suas cenas impactantes, provoca uma reflexão necessária sobre o modo como agimos e o modo com devemos agir em relação ao outro.

Dando continuidade ao debate e lançando o olhar sobre a questão da ética, o professor Fabrízio Varjão abordou a moral que justificava a escravidão, enfatizando uma fala do personagem Bass (vivido por Brad Pitt), um construtor canadense de ideais abolicionistas que, vindo trabalhar na fazenda em que Solomon vivia como escravo termina por auxiliá-lo a escapar. Esse personagem questiona as bases do direito que os indivíduos de cor branca tinham sobre a vida dos que lhes eram diferentes e chama a atenção para valores que são universais, como a igualdade entre os seres. O professor Fabrízio ainda discutiu com os alunos a questão da liberdade na sociedade capitalista moderna, em que a ação do indivíduo está condicionada ao seu status e sua capacidade de ser efetivamente livre é cerceada por essa contingência.

Finalmente, fazendo um paralelo entre a época em que a história do filme aconteceu e a produção literária engajada do Romantismo da 3ª Geração, a professora Darciane Andrade discorreu sobre a obra do poeta Castro Alves e sobre o Condoreirismo. Declamou ainda para os alunos um dos poemas abolicionistas desse grande poeta, fechando de forma brilhante mais uma edição do projeto Cine Cult Manoel.

Esse projeto, que propõe o uso do cinema como recurso pedagógico para uma abordagem mais ampla dos temas transversais, vem mostrando resultados positivos. Ainda estamos na segunda edição, mas, a julgar pela forma entusiasmada como vem sendo desenvolvido pelos professores e acolhido pelos alunos, está se revelando uma boa alternativa para potencializar as possibilidades de aprendizagem, reflexão, lazer e enriquecimento cultural do aluno e tornar o período noturno mais atraente, contribuindo para reduzir a evasão escolar característica desse turno.

Jorge Henrique Vieira Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...